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Pesquisa em Química contribui para a melhoria da saúde humana

Por Fábio Gaio. Em 20/07/17 11:00.

Conheça a Química de Produtos Naturais, responsável pelo isolamento e caracterização de substâncias naturais produzidas através do metabolismo secundário de plantas, microorganismos e animais marinhos

Coletar plantas, realizar o estudo químico, isolar e caracterizar substâncias que possam ser utilizadas pelos diversos segmentos da indústria faz parte das atividades realizadas pela Química de Produtos Naturais, um segmento que, muitas vezes, pode ser considerado a porta de entrada para o tratamento de doenças e descoberta de medicamentos.

Professora do curso de Química da Regional Catalão (RC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Richele Priscila Severino, explica que a Química de Produtos Naturais atua de forma a associar as substâncias presentes na natureza com respostas biológicas específicas, podendo fornecer fontes renováveis de substâncias com importância nas diversas áreas da ciência e tecnologia.

Segundo Richele, é natural que uma planta produza substâncias pelo chamado metabolismo primário, pois estas são essenciais para a vida do vegetal: aminoácidos, lipídios, carboidratos e macromoléculas. Em situações de adversidade, essa mesma planta ativa o chamado metabolismo secundário, que produz substâncias químicas que atuam na defesa contra a ameaça. Essas substâncias produzidas em quantidades muito pequenas pelo metabolismo secundário, são extremamente funcionalizadas do ponto de vista químico e possuem atividades biológicas das mais variáveis, que são estudadas pela Química de Produtos Naturais. A procura por substâncias biologicamente ativas em plantas destaca-se dos outros meios, principalmente pelo fato dos vegetais apresentarem uma grande diversidade molecular e funcionalidade biológica. “As plantas possuem alta capacidade de produzir estruturas moleculares extremamente funcionalizadas, complexas e incomuns, fazendo da flora um atraente foco químico e biológico” afirma a professora.

Atualmente o grupo de pesquisa do qual Richele faz parte, desenvolve projetos voltados a área de Química de Produtos Naturais e Química Medicinal, investigando plantas do Cerrado na busca por substâncias bioativas que possam interagir com diferentes alvos biológicos. Alguns trabalhos procuram identificar substâncias que atuem como inibidores específicos de enzimas e que possam ser utilizados para intervenções terapêuticas, contribuindo assim para a melhoria da saúde humana. Os estudos químicos das espécies vegetais são realizados na própria Regional, assim como os ensaios in vitro frente a enzima arginase, responsável pelo desenvolvimento da malária. Existem ainda trabalhos em andamento que são realizados em colaboração buscando inibidores para catepsinas (enzimas envolvidas em doenças como progressão de tumores malignos, doença de Alzheimer, osteoporose, processos inflamatórios, entre outras patologias) e na investigação de atividades citotóxicas em células tumorais.

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Parte dos componentes do grupo de pesquisa e a esquerda, na primeira fila a coordenadora, professora Richele (foto: Thiago Sousa)

A descoberta e desenvolvimento de um fármaco, que é o princípio ativo responsável pela atividade biológica de um medicamento, é um processo longo e leva em média 12 a 15 anos. De acordo com Richele, a academia pode contribuir com seu trabalho na realização da pesquisa básica (estudos químicos e biológicos), que é o começo do processo de descoberta. Um fármaco só poderá ser comercializado após a avaliação da eficácia e segurança in vitro e in vivo, realização dos ensaios pré-clínicos e clínicos, assim como certificação pelos órgãos regulatórios. A professora explica que muitas vezes, estudar uma planta, não significa que a substância natural chegará a ser um fármaco, mas pode ser um protótipo, uma espécie de concepção do modelo molecular. Por meio da Síntese Orgânica, a estrutura química pode ser modificada até chegar a uma substância mais eficiente, podendo assim ser utilizada pela indústria farmacêutica.

A busca por produtos naturais que possam ser utilizados como protótipo de um fármaco, pode partir de escolhas aleatórias, indicações populares ou conhecimento quimiotaxonômico. Segundo Richele, para se trabalhar com plantas brasileiras é necessário obter uma autorização específica para acessar e remeter componente do Patrimônio Genético com a finalidade de pesquisa científica. Caso isso não seja respeitado, o pesquisador está sujeito a penalizações.

A professora chama a atenção para o fato do Cerrado ter uma área total inferior, por exemplo, a da Amazônia, entretanto, possuir uma biodiversidade muito maior. “O Cerrado já perdeu mais de 40 por cento de sua vegetação nativa, principalmente com a avanço da atividade agropecuária, e num futuro próximo poderá não mais existir”, afirma Richele. Preservar o Cerrado, pode significar, também, a preservação de uma área com potencial para a descoberta do tratamento e cura de doenças.

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Grupo durante atividade de campo de coleta de materiais para pesquisa (foto: Thiago Sousa)

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