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Livro com participação de professor da UFG alerta para risco de extinção de espécies de crustáceos

Por Fábio Gaio. Em 07/12/16 09:14. Atualizada em 07/12/16 10:35.

Considerado um dos maiores processos de avaliação sobre o assunto no mundo, pesquisa pode ser consultada pela internet

O “Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil – Avaliação 2010-2014”, publicação lançada recentemente pela Sociedade Brasileira de Carcinologia (SBC), traz um extenso levantamento de informações sobre o risco de extinção de 255 espécies de crustáceos avaliadas no Brasil. Apresentada recentemente e disponível gratuitamente no formato e-book (www.crustacea.org.br), a obra conta com 34 capítulos escritos por 58 autores, sendo quatro capítulos com participação do pesquisador e professor do Instituto de Biotecnologia da Regional Catalão (RC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Emerson Contreira Mossolin.

O objetivo da publicação foi avaliar o risco de extinção e vulnerabilidade de diversas espécies de crustáceos, por meio de levantamentos de informações sobre as áreas em que cada espécie ocorre, aspectos de sua biologia e reprodução, possíveis ameaças, além de propor ações de conservação. A pesquisa identificou 28 espécies de crustáceos ameaçadas de acordo com os critérios da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês), com destaque para o caranguejo Cardisoma guanhumi, conhecido popularmente por guaiamum e bastante utilizado na culinária brasileira.

Com experiência de mais de 20 anos em pesquisas com crustáceos, o professor Mossolin explica que o objetivo do livro é exatamente o de detectar as espécies que necessitam de atenção e de ações de preservação. No caso do guaiamum, por exemplo, o livro fortalece ações de conservação já apoiadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), como a proibição da pesca em período de reprodução, estabelecimento de tamanho mínimo de captura e impedimento da captura de fêmeas portando ovos. O estudo aponta também a necessidade de se realizarem mais pesquisas, já que muitas espécies aparecem na categoria “Dados Insuficientes”.

Menos conhecidos do que caranguejos e camarões, os eglídeos não possuem interesse econômico, mas têm grande interesse científico pelo alto grau de endemismo, ou seja, por normalmente serem encontrados em áreas bastante restritas. “Os eglídeos evolutivamente surgiram no mar e hoje são encontrados no ambiente de água doce, principalmente em rios de corredeira e cavernas. Em todo o mundo, o grupo só é encontrado na América do Sul, do noroeste do estado de Minas Gerais até o extremo sul do Chile”, destaca. Por características tão específicas e baixa distribuição, os resultados apresentados no livro consideram 26 espécies de eglídeos nas categorias “Vulnerável”, “Em Perigo” ou “Criticamente em Perigo”.

Segundo Mossolin, os crustáceos são fundamentais no meio ambiente em que se encontram, e sua diminuição ou extinção podem levar a algum tipo de desequilíbrio populacional em outras espécies e também ao seu habitat. Alguns caranguejos que vivem em áreas de manguezal, por exemplo, transportam folhas para a sua toca e auxiliam no processo de destruição deste material, ampliando a retenção de nutrientes no local. Já os camarões são oportunistas e, segundo o professor, estão o tempo todo em atividade, se alimentando de minúsculos organismos a até grandes animais que porventura estejam mortos dentro d’água.

Outro ponto é a importância econômica, em especial de caranguejos, lagostas e camarões. “A diminuição de caranguejos no nordeste, por exemplo, pode gerar sérios problemas econômicos”, afirma Mossolin. Outro exemplo é um crustáceo chamado de corrupto (Callichirus major), muito comum na areia da praia e usado como isca de pesca, que teve seus estoques reduzidos drasticamente pela exploração desordenada em alguns locais.

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Fêmeas de camarões de água doce utilizadas em estudos reprodutivos por estarem com ovos em seu abdome

 

Goiás e Catalão

Para Mossolin, Goiás é um estado com grande potencial para pesquisas sobre crustáceos. “Não existem muitos pesquisadores de crustáceos em Goiás. É um estado com muito a ser descoberto ainda”, revela. Segundo o professor, algumas espécies foram introduzidas em nossa região, como exemplo, um camarão bastante comum na Amazônia (Macrobrachium amazonicum) e encontrado na represa do Clube do Povo, em Catalão. A espécie é observada em diversas regiões do país, sobretudo em locais de represas e barragens, e vive associada a troncos e raízes submersas. Outro exemplo de presença de crustáceos em Goiás é em Anhanguera, menor município do estado, onde o professor já encontrou espécies de camarão e caranguejo.

Segundo o professor, o Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil é uma publicação nacional, mas com interesse internacional e, seguramente, faz parte de um dos maiores processos de avaliação de risco de extinção de espécies no mundo, que leva também o nome da Regional Catalão. O pesquisador acredita que sua experiência com crustáceos foi o que o levou a ser convidado para várias etapas na elaboração do livro, como o preenchimento de fichas informativas sobre espécies, bem como participar como especialista em oficinas de discussão. Esta experiência também pode ser destacada por uma nova função que o professor irá assumir a partir de janeiro de 2017, quando será um dos seis pesquisadores nacionais que irão compor o quadro diretivo da Sociedade Brasileira de Carcinologia.

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Professor da Regional Catalão, Emerson Contreira Mossolin, um dos autores Livro Vermelho dos Crustáceos.

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